O pesquisador Paulo Capel Narvai, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), aponta a omissão de estados e municípios que não priorizam a saúde bucal como o maior entrave para a superação dos desafios na área.
No caso da adição de flúor na água oferecida à população para prevenir a cárie dentária, medida obrigatória por lei, ele observa que o problema ocorre em centenas de pequenos municípios, onde muitas vezes há dificuldades até mesmo para fornecer água tratada, mas também em grandes capitais, como Recife, Cuiabá e Manaus que têm, cada uma, mais de 1 milhão de habitantes.
Segundo ele, em Cuiabá, por exemplo, 100% da população têm água tratada, por isso, a falta de fluoretação configura uma situação de flagrante descumprimento da lei. Em outras cidades, como Recife, ele considera a situação mais complexa, já que o sistema de abastecimento de água inclui poços artesianos e há bairros em que a água não vem de estações de tratamento.
“Deveríamos avançar ainda mais com essa medida [adição de flúor na água] tendo em vista a importância estratégica que ela tem no enfrentamento da cárie e dos problemas de saúde bucal”, alertou Narvai.Segundo ele, 50% da população brasileira não é assistida pela fluoretação da água. A maior parte desse percentual está nas grandes cidades, entre elas a maioria das capitais das Regiões Norte e Nordeste.
Uma parcela menor, cerca de 15% da população, vive em pequenos municípios, com até 15 mil habitantes.Procurada pela reportagem, a Companhia de Saneamento da Capital, de Cuiabá, informou que está comprando equipamentos e construindo tanques para iniciar até o final desse ano a fluoretação de água. Segundo o engenheiro químico responsável pela companhia, Noé da Silva, a adoção do procedimento foi retardada por causa da mudança ocorrida na esfera de responsabilidade sobre o abastecimento de água da cidade.
Até 2000, essa atribuição era do governo estadual e, a partir de então, passou a ser do município.Em Manaus, o abastecimento de água é feito pela empresa Água do Amazonas, contratada pela prefeitura para prestar o serviço. De acordo com o coordenador do Plano de Expansão do Sistema de Abastecimento de Água de Manaus, Sérgio Elias, a fluoretação de água nunca foi feita no município mesmo quando o abastecimento era responsabilidade do governo estadual.
Mas, segundo ele, a medida passou a ser prevista quando atribuição do serviço foi transferida para prefeitura. No entanto, a empresa contratada não cumpriu as metas estabelecidas para a concessão. Depois de uma repactuação ocorrida em 2007, o serviço passou para a atual empresa que prevê para o final de 2008 o abastecimento regular de água para 90% da população do município, incluindo a fluoretação.Até a publicação da reportagem, a prefeitura de Recife não havia confirmado as informações sobre o abastecimento de água prestado pela Companhia Pernambucana de Saneamento. Agência Brasil